Quando chegou o período escolar e, naquela época, os pais eram irredutíveis. Comprometiam-se com os estudos dos filhos. A formação das crianças soava como “meu filho tem que ser gente na vida. Não quero que ele sofra com eu sofri. Quero dar o bom e o melhor a eles”. Minha mãe fazia referência à sua falta de estudo. Era analfabeta. Para prover o nosso sustento foi lavadeira na casa de uma tia – única irmã da minha mãe que sempre esteve em melhores condições socioeconômicas.
A sorte estava lançada. Aos 07 anos entrei na escola. Pátio enorme. Crianças gritando e chorando. Corredores compridos e toque do sinal bem estridente para a entrada das aulas. De longe, via minha mãe se afastando... O grande portão se fechava e o bedel impiedosamente apertava com suas enormes mãos os cadeados com correntes grossas. Aí que dor! Sentia-me tão impotente frente àquela multidão. Não tinha escolha. A sala de aula, a professora, os colegas de classe e o desafio de aprender eram meus algozes.
Blusa e meias brancas, saia pregueada azul-marinho. Impecavelmente bem asseada. O tempo foi passando e a alegria de aprender circundou minha alma estudantil. Comecei a me ver no papel da professora. Lembranças da carinhosa dona Geni, da beleza artística da dona Eugênia e até da professora Maria Batalhone, dona de uma voz rouca e que nos corredores mais parecia um vulcão em erupção.
O fato é que aprendia bem minhas lições pela manhã. À tarde, sabia direitinho como fazer minhas tarefas. Arrumava bem um cenário aconchegante para receber o meu mais querido aluno: meu cachorro Negrinho. Arrastava o enorme cachorro pelas patas e o punha frente a uma folha de papel. Ele cheirava o papel e sabia que eu precisava de sua colaboração. Pacientemente, com o focinho sobre o papel, levantava a cabeça preguiçosamente, e me olhava com ar de que tudo entendia.
Recordar é viver. Hoje me lembro daquela época inocente com carinho. Saio no pátio da escola, que hoje estou como gestora e vejo meu cenário real. Vejo nossas crianças, tão humildes como foi minha infância. Incentivo-os a se motivar pelos estudos com alma. Digo a eles que eles serão vencedores e se tornarão homens e mulheres que gerenciarão o mundo.
Isto é tudo por hoje!
Ah! Um beijo carinhoso ao meu ínfimo reduto de leitores. Obrigada pelo sacrifício!
Eleni Gentil Amaral
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